O Ajax é o meu clube predileto na Europa. Não time, mas clube. Porque foi o clube que revelou meu jogador predileto (Cruyff, que estampa a capa e o nome do blog). E porque, por causa de Cruyff - e de Rinus Michels -, revolucionou o futebol, criando o estilo de jogo que me fez me apaixonar por esse esporte. E o Ajax tem uma história incrível. Mas, nos últimos anos, estava relegado a ocasionais títulos nacionais e pífias participações nas competições europeias. Esta temporada, o time de Amsterdã pode relembrar seus tempos de glória caso conquiste a Liga Europa quarta-feira contra o Manchester United.
Tudo bem, a Liga Europa não é a Liga dos Campeões... E tudo bem, este time está longe de lembrar equipes históricas, como a invicta de 1995 ou a tricampeã europeia dos anos 1970. Mas, no futebol de hoje, com um abismo cada vez maior entre as maiores ligas (Inglaterra, Espanha, Alemanha e até Itália) e as de menor expressão, um título da Liga Europa para um Ajax de média de idade de 22,7 anos pode ser uma conquista bastante significativa.
Atualmente, os valores pagos pelos direitos de transmissão dos jogos de futebol, uma das principais fontes de renda dos clubes, crescem exponencialmente. Pelo menos para as ligas mais ricas - a Premier League inglesa recebeu mais de 5 bilhões de libras (cerca de R$ 22 bilhões) somente pela transmissão no Reino Unido dos jogos das três temporadas entre 2016 e 2019. E, nessas ligas, os clubes mais ricos tornam-se cada vez mais ricos, contratam os melhores reforços - inflacionando o mercado -, ganham mais títulos e, consequentemente, mais dinheiro. É um círculo vicioso que condena ligas de menor poder aquisitivo que já tiveram seu destaque na Europa. As de Holanda, França e Portugal, por exemplo.
Qual é, então, a solução para os clubes desses países? Investir na base e na apostar na compra de jovens promessas de outros países. Coisa que Ajax, Feyenoord, PSV, Rennes, Monaco, Lyon, Porto, Sporting e Benfica, entre outros, já faziam antes da recente inflação de valores. No entanto, quando essa combinação dá certo e resulta numa geração que consegue se destacar perante os gigantes europeus, dificilmente os jogadores mais talentosos ficam no clube na temporada seguinte. Mesmo que não leve o título, essa deve ser a sina deste Ajax que tem inúmeras falhas defensivas e até ofensivas, como é típico de um time que às vezes entra em campo sem nenhum jogador acima de 21 anos, mas que, como rege a sua tradição, passa 90 minutos buscando o gol - o mesmo acontece com o Monaco semifinalista da Champions.
Diante do Manchester United, essa vocação ofensiva pode resultar em fracasso. Mourinho sabe bem como armar uma defesa e matar o jogo num contra-ataque, o que talvez nem seja necessário, dada a extrema superioridade do elenco inglês. No entanto, mesmo que não consiga levantar a taça, pessoalmente eu gostaria de ver o Ajax jogar na quarta-feira como fez diante do Lyon na semifinal - o quarto gol no jogo de ida, em Amsterdã, chegou a lembrar o Ajax do futebol total, com toques rápidos, de primeira, e uma bela trama coletiva - ou do Schalke nas quartas. Antes de ter seu time desmontado no mercado do verão europeu.
Crédito: facebook AFC Ajax