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A redenção de Philippe Coutinho


Mané e Coutinho comemoram gol pelo Liverpool

Eu estava preparando um texto sobre Philippe Coutinho e outro sobre Sadio Mané. No sábado, no jogo do Liverpool contra o Manchester City, Mané foi expulso e automaticamente suspenso por uma entrada feia no goleiro Ederson, e a ausência do senegalês provavelmente implicará numa reintegração mais rápida do brasileiro ao elenco dos Reds, caso Jürgen Klopp e/ou a diretoria estavam pensando em manter o jogador na geladeira por mais tempo, após a negociação frustrada com o Barcelona. Portanto apareceu a oportunidade de juntar duas pautas em uma.

Coutinho é um raro exemplo de jogador que surge cedo como promessa e efetivamente faz jus às expectativas. Muitas vezes o peso de ser o novo Pelé, o novo Maradona ou o novo qualquer grande craque é maior do que o jogador consegue suportar. Ele fecha contrato com um grande clube ainda jovem, precisa se adaptar a um novo país, uma nova cultura, uma nova língua e, principalmente, um novo estilo de jogo sem mal ter completado a sua formação no local de origem. Não são raros os casos onde o atleta ainda provém de uma família desestruturada, não teve acesso a educação e muito menos a um entorno social estável, que são fatores decisivos na sua formação como pessoa. Nesse contexto não é de se estranhar que jogadores como Alexandre Pato, Adriano, Carlos Tévez, Robinho e outros tenham rendido muito menos do que poderiam ou pareciam que renderiam quando surgiram no futebol - mesmo que alguns deles tenham rendido bastante. Não foi o caso de Philippe Coutinho, apesar de o jogador do Liverpool ter tido um começo difícil na Europa.

Aos 16 anos Coutinho fechou contrato com a Inter de Milão, mas ficou no Vasco até completar a maioridade. Ainda no colégio, o meia começou a ter aulas particulares de italiano para se preparar para a mudança ao país europeu. Chegou na Inter em 2010 e nunca se firmou como titular. Em um ano e meio, foram 28 partidas, sendo 15 como titular, e somente dois gols. Em janeiro de 2012 foi emprestado ao Espanyol para ganhar experiência e teve um bom desempenho. Em Barcelona, foram 16 partidas, 14 como titular, e cinco tentos em apenas seis meses, e a Inter o chamou de volta. Após mais seis meses entre altos e baixos em Milão, Coutinho foi vendido ao Liverpool em janeiro de 2013 por 13 milhões de euros, aos 20 anos de idade, e não demorou a se tornar o maestro do time e a finalmente jogar todo o futebol que dele se esperava desde que o meia começara a chamar a atenção ainda nas categorias de base do Vasco e da Seleção Brasileira.

Coutinho tem muito o que agradecer ao Liverpool, e o Liverpool a ele. Os dois cresceram juntos na Europa. Quando o brasileiro foi contratado, o Liverpool havia ganhado apenas um título de destaque em seis temporadas, a Copa da Liga Inglesa de 2011/12, e, à beira da falência, acabara de ser comprado por John Henry, também proprietário do time de baseball Boston Red Sox. A proposta do novo dono era de reestruturar o clube, mas de forma responsável, sem investir muitos milhões em contratações midiáticas, como é de praxe em alguns times ingleses. Sob a batuta de Phillipe Coutinho, o Liverpool brigou pelo título da Premier League até a última rodada na temporada 2013/14, e o brasileiro conquistou o apelido de "Little Magician" (Pequeno Mágico).

O meia brasileiro havia "nascido" para o futebol europeu, conquistara uma das torcidas mais apaixonadas da Inglaterra e finalmente adquirido os status de craque e ídolo. Foi então, também, que começou a chamar a atenção de outros grandes clubes, como o Barcelona.

O Liverpool não tem um elenco de craques brilhantes e prefere investir em reforços pontuais de valor médio ou baixo. No mercado do futebol, os Reds são do tipo que compram de clubes periféricos e vendem para os bilionários. Em 2013/14, Philippe Coutinho fez uma extraordinária dupla ofensiva com Luis Suárez, mas o uruguaio andava numa fase "problemática" (parece ter acalmado em Barcelona) e se mudou para o time catalão em julho de 2014. O Liverpool caiu de produção, mas vem se recuperando desde a chegada de Jürgen Klopp, voltando a brigar entre os primeiros na Inglaterra e este ano disputa novamente a Champions.

Esta era para ser A grande temporada (final?) de Philippe Coutinho nos Reds: a chance de finalmente brilhar também na Liga dos Campeões e, após a Copa de 2018, tendo, quem sabe, oferecido à torcida do Liverpool um grande troféu, se mudar para um clube mais poderoso. Um grande adeus e um agradecimento para uma instituição que acreditou nele quando o meia parecia mais uma jovem promessa fadada ao fracasso.

No entanto Coutinho não quis que o roteiro seguisse assim. Após renovar seu contrato com o clube inglês em janeiro deste ano por mais cinco anos, na janela de transferências deste verão europeu pediu para ser negociado com o Barcelona. Ficou afastado do elenco durante o início da temporada por "dores das costas", enquanto seu futuro era discutido entre as diretorias de ambos os clubes. Liverpool e Barcelona não chegaram a um acordo - o novo contrato de Coutinho não tem multa rescisória, e os catalães não ofereceram um valor que satisfizesse os ingleses -, e o brasileiro agora começa a campanha 2017/18 sob desconfiança da torcida e entrando em campo sob pressão num time que vinha muito bem com seu novo trio ofensivo, formado por Mané, Firmino e Salah. Houve quem dissesse até que o brasileiro não teria lugar entre os titulares, tamanho o entrosamento no novo ataque dos Reds. Até Mané ser expulso...

Diferentemente de Coutinho, Mané já havia brilhado na Inglaterra antes de chegar ao Liverpool. O senegalês fez com o italiano Graziano Pellè uma dupla ofensiva que chamou a atenção não só pelo nome, como também pelos grandes gols que fizeram com que o Southampton terminasse a Premier League em sexto lugar em 2015/16. O polivalente Sadio Mané pode atuar como meia, ala ou atacante centralizado e fez muita falta ao Liverpool na segunda metade da temporada passada, quando se ausentou do clube para a disputa da Copa Africana de Nações, e os Reds foram eliminados da Copa da Inglaterra, da Copa da Liga e caíram da segunda para a quarta colocação no Campeonato Inglês, 10 pontos atrás do Chelsea.

Mané, Firmino e Salah começaram esta temporada voando e somavam nove gols entre si até o desastre contra o City, quando o senegalês foi extremamente imprudente, carimbou o rosto de Ederson com as travas da chuteira, foi expulso e automaticamente suspenso por três partidas - dada a gravidade da falta, três partidas ficaram até baratas para o ala. O Liverpool foi goleado por 5 a 0, e Klopp, que não havia relacionado Coutinho para o jogo do fim de semana mesmo após o brasileiro ter jogado duas partidas pela Seleção nas Eliminatórias, incluiu o brasileiro na lista de jogadores para a partida contra o Sevilla, quarta-feira, pela Liga dos Campeões - a suspensão de Mané vale apenas para o Campeonato Inglês, mas Coutinho precisa de entrosamento no time se vai ocupar o lugar do senegalês por três partidas na Premier League.

A existência de opções no ataque dos Reds, que conta ainda com Oxlade-Chamberlain, Sturridge e o apoio de Wijnaldum e Lallana no meio de campo, fortalece o time inglês na briga por títulos - a ausência de alternativas no banco foi exatamente o que mais pesou contra a equipe nas duas temporadas anteriores de Klopp em Anfield Road. Coutinho, porém, terá de reconquistar a torcida, além de seu lugar na equipe. Por mais que ele tenha sido o grande maestro do Liverpool nos últimos quatro anos e meio e que seja o melhor jogador da Seleção Brasileira depois de Neymar, Philippe Coutinho não é insubstituível. Contra o Sevilla - ou na próxima rodada do Campeonato Inglês, caso Klopp queira mantê-lo na geladeira por mais um jogo -, o brasileiro terá a primeira chance de se redimir perante a torcida que lhe elevou ao status de ídolo.

Coutinho terá uma temporada inteira para se redimir e, se jogar como vinha fazendo, isso não será uma tarefa árdua. E, quando chegar o próximo verão europeu, poderá negociar sua transferência para o Barcelona ou qualquer outro clube em melhores termos. E despedir-se dignamente da torcida que o transformou em ídolo.

Crédito: facebook LiverpoolFC

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