O melhor da vitória sobre o México nesta segunda-feira foi a evolução da Seleção Brasileira. A partida contra a Suíça foi medíocre. Diante da Costa Rica, alguns momentos de pressão, mas falta de pontaria, passes errados e alguns jogadores cruciais ainda longe de seu melhor. No jogo contra a Sérvia, finalmente o Brasil exibiu um bom futebol, Neymar jogou bem e em nenhum momento pareceu que a vitória escaparia. Nesta segunda, um adversário que exigiu bastante nos primeiros minutos, pressionou psicologicamente a Seleção na etapa final, e alguns jogadores que ainda não haviam desembarcado na Rússia finalmente entraram em campo. O Brasil jogou bem, e vem evoluindo.
A melhor evolução, sem sombra de dúvida, foi a de Willian. Eu sempre disse que o ponta é o jogador mais regular da Seleção e do Chelsea – e o melhor do time inglês há pelo menos três temporadas –, mas Willian me fez morder a língua nas primeiras partidas em solo russo. Totalmente apagado, e o Brasil completamente inoperante no lado direito. Talvez seja a ausência de Daniel Alves. Talvez a timidez de Paulinho, que só passou a avançar diante da Sérvia. Douglas Costa entrou muito bem contra a Costa Rica e mostrou que deixaria o atacante do Chelsea no banco, mas se lesionou.
Diante do México, Willian finalmente foi Willian. Voltou para buscar a bola no campo de defesa, distribuiu as jogadas e, mais importante, ofereceu muito perigo ao adversário pelo lado direito – e também pelo meio e pelo lado oposto, por onde cruzou para Neymar abrir o placar. A ala esquerda, aliás, está sempre bem marcada. É por lá que jogam Neymar e, quando em forma, Marcelo, dois dos melhores jogadores do mundo. Coutinho também costuma cair mais pela esquerda, mesmo que na Seleção atue centralizado. Willian, então, está sempre mais desmarcado. Se você for daqueles que depois da partida assiste às melhores mesas redondas, entra na Internet para ler as matérias e, se possível, ainda vê o VT, preste atenção na quantidade de vezes, durante o jogo contra o México, em que Willian esteve totalmente sozinho do lado direito do campo.
As evoluções de Paulinho e Fagner também ajudaram. O volante costuma ser o termômetro da Seleção, e suas avançadas são extremamente perigosas. Quando está mais ousado, Paulinho faz excelentes jogadas com Willian. E nas oitavas de final Fagner finalmente chegou à linha de fundo e cruzou, algo que ainda não havia feito nas partidas anteriores.
Do lado esquerdo, Neymar anda caindo menos, fazendo menos teatro e procurando mais a bola. Abusou da tentativa de protagonismo, da “fome”, das reclamações e das irritações nas primeira partidas. Foi extremamente – e justamente – criticado nos quatros cantos do mundo. Abaixou o topete, literalmente, e passou a soltar mais a bola. Com a Seleção jogando melhor, e Philippe Coutinho comandando o time e, com ele, a marcação adversária, Neymar também melhorou. E muito.
O único jogador que segue sem evoluir na Seleção é Gabriel Jesus. É bem verdade que diante do México o atacante do Manchester City se movimentou mais, buscou a bola e até finalizou, ora vejam só! Mas ainda é pouco, muito pouco diante do que se espera dele, do Brasil e de um time que quer ser campeão do mundo. Firmino, que quase foi campeão da Europa há bem pouco tempo, está louco pra ser titular, entrou muito bem nesta segunda-feira e diante da Costa Rica, depois que foi para o ataque – inicialmente Tite o colocou no lugar de Paulinho, jogando como Paulinho, e o atacante ficou perdido atrás da linha de meio de campo. O jogador do Liverpool não é centroavante matador, mas é extremamente versátil, e sua presença no quarteto ofensivo ajudaria a soltar mais Neymar e Coutinho, que podem – e devem – trocar de posição, principalmente para confundir a marcação.
Não assisti às Copas de 58, 62 e 70, mas vi e lembro perfeitamente das de 94 e 2002 e em ambas o Brasil cresceu ao longo da competição. Jogadores que não começaram bem foram para o banco, táticas que não funcionaram foram mudadas, e a Seleção foi encontrando seu melhor futebol à medida que enfrentava melhores adversários. Em contrapartida, em 2006, 2010 e 2014, a equipe canarinha mostrou um futebol medíocre em quase todas as partidas, deixando a desejar sempre que se achava que “agora vai!”. A evolução na Rússia está clara, e tem que continuar, pois, se esta Copa está estranha, com os favoritos ficando para trás e as zebras avançando, a chave do Brasil é a que concentrou mais talento.
Crédito: Lucas Figueiredo/CBF